sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Perguntas que estragam qualquer "marketing" político

É uma notícia da TSF:

"Acompanhado pela ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, numa visita a Escola Secundaria Pinheiro e Rosa, José Sócrates testemunhou a vídeo-conferência entre aquela escola e a Escola Serafim Leite, em São João da Madeira.

«Queremos que todas as escolas do país estejam ligadas à Internet com uma velocidade não inferior a 48 megabits e que 100 delas, como é o caso desta, estejam ligadas a 100 megabits», disse.

O Chefe do Governo disse que é também objectivo do Executivo que «todas as salas de aula tenham uma ligação à Internet» e que «cada escola tenha uma rede de videovigilância para aumentar a segurança».

«Queremos também que haja um cartão de aluno que permita uma melhor gestão escolar e que o dinheiro seja eliminado do perímetro escolar», para além de mais computadores, mais quadros interactivos e videoprojectores», adiantou.

Durante a sua visita, José Sócrates só não respondeu a um aluno com mobilidade reduzida que perguntou ao primeiro-ministro quando é que aquela escola terá um elevador para poder aceder ao primeiro andar."


Até estou de acordo que uma criança com um computador será um adulto mais qualificado.

Mas escolas, " ligadas à Internet com uma velocidade não inferior a 48 megabits e que 100 delas, como é o caso desta, estejam ligadas a 100 megabits" com "quadros interactivos e videoprojectores", que negam o acesso ao primeiro andar (onde estão frequentemente recursos necessários à aprendizagem) , não me parece que sejam escolas inclusivas.

Na vertigem do "Magalhães" o governo esqueceu o essencial.

Recordo que, de acordo com o Dec. Lei 123/97, havia um prazo para adaptar todos os edifícios públicos e de utilização pública que acabou em 2004.

São leis senhor...são leis...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Contamos com todos

Você, que tem uma deficiência, verificou este ano que a sua contribuição fiscal era muito maior do que o que pagou em anos anteriores.

A má notícia que temos para lhe dar é que para o ano vai ser pior.

Este ano os seus rendimentos ainda não foram todos contabilizados. É o que o Governo chama de “período de transição”.

Em 2007 contabilizaram “unicamente” 80% do seu rendimento.

Aliás, este período de transição é assim como uma confissão de culpa. Se o Governo achava que eram justas as alterações ao cálculo do imposto, para quê um período de transição? Cá para mim, só tenho uma explicação, é que se as regras mudassem de um ano para o outro a revolta seria muito maior

Não precisa de fazer contas. Quando for a 100% vai notar muito mais.

Muito em breve vamos fazer uma reunião, aberta a todos que acham esta situação injusta, para decidir o que fazer. A discussão da Lei do Orçamento, em que estas coisas são definidas, está quase aí.

Para alterar isto temos de estar todos do mesmo lado:

Pessoas com deficiência;
Organizações de pessoas com deficiência;
Organizações de apoio e defesa das pessoas com deficiência.

Contamos com todos... e em breve daremos notícias

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Não sei mesmo o que diga

Isto que vos deixo aqui a seguir é uma coisa que... nem sei o que diga. É que nem dá para comentar. Parece que é da autoria de um "jornalista" do "Record". As reacções ao post deste sr. não serão muito serenas nem bem educadas. Mas, também, para o que o sr. escreveu, não seria de esperar outra coisa.
Haveria muita coisa a dizer sobre o que significam opiniões como estas. Preconceito, estigmatização, exclusão, sei lá, boçalidade.

Não tenho tempo nem paciência para comentar coisas destas:

De 4 em 4 anos, a seguir aos Jogos Olímpicos, lá vem a história dos Paralímpicos. O pessoal com "handicap" (físico ou mental) aproveita as instalações desportivas olímpicas e vai também à caça à medalha. O Mundo considera isto um acontecimento! Mas não é. Quando muito é uma boa ideia que sobretudo serve de motivação a quem nasceu e cresceu com problemas. De aí até fazer dos Jogos Paralímpicos um acontecimento, com páginas de jornal, vai uma grande distância. A não ser pelo bizarro da coisa... Só consigo encontrar uma explicação para isto: os "eficientes" justificam a sua geral indiferença pelos "outros" com este tipo de paternalismo. A treta do costume. O desporto de alta competição nada tem a ver com esta espécie de ATL com cães-guias, próteses da Puma e jogos de salão...

PS - Presente em Pequim, Laurentino Dias considerou a conquista de uma medalha de ouro em Boccia (?????????) "o momento mais bonito do meu mandato". Ok, já sabíamos que não está a ser um grande mandato - o que não sabíamos é que ia assim tão mal...

podem encontrar esta coisa aqui, e reagir

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Mais um e-mail que nos chegou

Mais um e-mail de alguém que não se cala

"Caros Senhores e Amigos:
Admiro, apoio e agradeço a vossa luta.
Sou um dos muitos que me sinto fortemente prejudicado. Agora, nos meus 61 anos de idade é que sinto a falta que faz o braço direito.
Infelizmente o meu IRS não serve de exemplo. Em 2006 tive mais 25.000 euros de rendimento de trabalhador independente que em 2007 (neste último ano).
Sou de Gondomar, portanto longe de centro das decisões. O meu tempo é muito escasso pois tenho-o muito ocupado com o trabalho que a vida está cada vez mais difícil e mais selvagem. Então para os da minha idade e com estas dificuldades. Mas Deus tem-me ajudado.
Além dos benefícios que nos tiraram, agravaram de 65% para 70% a matéria colectável dos trabalhadores independentes, onde eu e julgo muitos outros nos incluímos. Assisto incrédulo e cada vez mais desanimado a todos estes atropelos. Não se respeita ninguém. Hoje não se sabe o dia de amanhã que é tratado segundo as conveniências de quem pode. Ninguém está sossegado e o stress aumenta de dia para dia. Impostos e mais impostos, cada vez mais. E para quê?
Se calhar até sabemos para quê.

Nunca pensei, quando vivi o 25 de Abril, que seria para isto.

Cumprimentos e bem hajam pela vossa vontade."

Tal como aconteceu com este nosso amigo, queremos saber o que sentiu quando recebeu a sua "conta" de IRS.

O nosso e-mail é mtpd.bfiscais@gmail.com

O tempo que demora a escrever um e-mail não é nada. O seu testemunho é demasiado importante para ficar só consigo.


PS. Não publicamos a identificação de quem não diga que devemos identificar o remetente.


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Quando o telefone toca

Nos últimos dias o telefone tem tocado mais do que é costume. Do outro lado o que me dizem é que ficaram espantados com o que têm de pagar de IRS. Alguns costumavam receber 4.000 Euros e recebem 200, outros tinham de pagar, já não sei quanto, e têm de desembolsar 3 vezes mais. (Já tínhamos avisado no ano passado que ia ser assim. Já agora, fica aqui a informação que para o ano vai ser pior. Este ano, porque era uma "fase de transição", ainda não contaram com todo o vosso rendimento colectável)

Para argumentarmos na próxima discussão da Lei do Orçamento temos de ter argumentos, documentados, dos aumentos brutais de imposto sobre as pessoas com deficiência.

Já chega de demagogia do governo "Robin Hood" que rouba aos "deficientes" ricos para distribuir pelos "deficientes" pobres.

Precisamos da sua declaração de imposto!

Tape o seu nome e a sua identificação fiscal (se não conseguir, nós escondemos todos os dados que o possam identificar) e envie para o nosso e-mail: mtpd.bfiscais@gmail.com.
Só com o apoio de muitas pessoas com deficiência poderemos vencer esta batalha. Só todos juntos, como aqui e aqui, será possível dar a volta a isto.

Para verem do que estou a falar fica aqui um e-mail que recebemos. Não identificamos o remetente porque não é importante, nem sabemos se o remetente quer ser identificado. São alguns como este:

“Gostaria apenas de referir que era costume receber cerca de 750 euros de reembolso em sede de IRS e este ano, devido quase exclusivamente às mudanças das regras no que aos deficientes diz respeito, não só não vou receber nada como vou ter que desembolsar nada mais nada menos do que 1997 euros no fim do mês. Gatunos, hipócritas e covardes, são os que se viram contra os indefesos e não combatem com a mesma dureza os mais fortes e continuamente impunes neste país atrasado.
Esquecem-se que nós e eu particularmente, tenho de despender de viagens caras nos comboios todas as semanas, que tenho de pagar para me auxiliarem por vezes no meu trabalho quando não consigo ler determinadas coisas e que quando tenho de ser operado, e já lá vão cerca de 10 vezes aos olhos, tenho de despender largas quantias de dinheiro, pois na minha situação tão periclitante não posso colocar-me nas mãos do SNS cada vez mais carente dos melhores oftalmologistas.
Por outro lado comparando com os meus colegas, que é com quem eu devo comparar-me pois exercemos a mesma profissão, eles ganham o dobro de mim, pois podem deslocar-se para fazer privada em vários sítios e podem ocupar-se de funções no hospital como as urgências e horas extraordinárias as quais eu me vejo impossibilitado de fazer devido à minha deficiência. Por outro lado não necessitam para isso de despender mais trabalho do que eu e até pelo contrário, uma vez que para fazer as mesmas coisas e assim como para tirar o curso de medicina, tive de despender de muito mais tempo e tive muito mais trabalho, como podem calcular.

Abraço deste cidadão revoltado com este governo e nunca tão covardemente
roubado.”

Podia pôr aqui mais alguns testemunhos, mas neste momento estamos a precisar do seu.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ele há mesmo gajos assim

A Câmara Municipal de Lisboa decidiu, e bem, que eram necessários táxis acessíveis.
A possibilidade de as Câmaras atribuírem alvarás para táxis acessíveis está prevista na lei há alguns anos. Hajam mais Câmaras a fazer o mesmo.

A reacção do presidente da antral, o sr. florêncio almeida, foi, cá para mim, no mínimo nojenta, ou para ser mais simpático, asquerosa.

Dizia o sr.:“eu próprio não gosto de ser conotado com o que não sou”.

Estava ele a falar de ser conotado com as pessoas que têm uma deficiência e precisam de ir para o emprego ou fazer compras ou que , sei lá... até são capazes de querer ir num sábado á noite para a 24 de Julho.

Estava este sr. a argumentar com a inviabilidade económica dos táxis acessíveis porque ninguém quereria andar naqueles veículos do demo, não fosse a deficiência ser assim uma coisa contagiosa.

sr. presidente, garanto-lhe, tenho uma paraplegia há 30 anos e nunca a “peguei” a ninguém.

Aqui, já de seguida, vão duas reacções à reacção do sr. presidente.

Ainda há quem esteja atento a estas coisas. Nós agradecemos.

Incluir? Não obrigado!

Num país onde a esmagadora maioria de pessoas portadoras de deficiência são obrigadas a ficar em casa por não terem condições para vencer os obstáculos na rua, é perverso ouvir declarações públicas feitas por pessoas aparentemente responsáveis que se recusam a dar passos para incluir os mais frágeis.

Falo de Florêncio Almeida, presidente da Antral, que explica com toda a eloquência possível que "não há mercado" para este tipo de transporte e que "as pessoas sem deficiência não querem viajar em táxis próprios para deficientes". Inspirado, Florêncio Almeida, vai mais longe e admite: "eu próprio não gosto de ser conotado com o que não sou". Extraordinário raciocínio, este. Mas há mais e continuo a citar o que li no Público de dia 22 de Agosto: "o que eu quero é trabalhar e não fazer serviço social". Bravo! Uma boutade pareceu-lhe pouca coisa, duas ou três de enfiada deram-lhe certamente outra assurance discursiva.

Pois bem caro Florêncio a serem verdade, estas suas afirmações falam por si e infelizmente dizem o pior. Mostram uma total insensibilidade e revelam uma ignorância chocante. Isto para não falar da falta de estratégia empresarial e da ausência de sentido do negócio. Mas vamos por partes.

Ao contrário de Florêncio Almeida, a maior parte das pessoas que não tem handicaps físicos sente-se muito mais confortável quando anda em transportes onde há lugares ou circunstâncias adaptadas aos deficientes do que quando percebe que estes foram completamente excluídos.

É completamente falso que os ditos normais se recusem a apanhar um táxi adaptado para pessoas com necessidades especiais. Aqui e em qualquer lugar todos ganhamos com a inclusão e por isso é bom que Florêncio Almeida fale por si, coisa que obviamente não pode fazer por ser presidente de uma Associação que representa uma classe com milhares de profissionais.

Uma coisa é as pessoas sem handicaps não se lembrarem que são precisas adaptações, outra radicalmente diferente é estas mesmas pessoas recusarem estas adaptações com argumentos patéticos. Nesta linha é bom que Florêncio Almeida separe as águas e não amplie uma voz distorcida.

Quanto a não gostar de ser conotado com o que não é, neste caso particular com pessoas com deficiência, cada um sabe de si. Eu lido perfeitamente com todos os tipos de deficiência e a única que verdadeiramente me incomoda é a deficiência moral. Essa sim, incomoda-me por revelar pobreza de espírito e indigência moral, passe a redundância.

Finalmente a questão do serviço social. Numa época em que todos temos consciência de que o empreendedorismo e a responsabilidade social das empresas são uma aposta ganha à partida, não fica bem a ninguém defender o indefensável. Se Florêncio Almeida não faz nem quer fazer que se chegue para o lado e deixe que outros façam o que tem que ser feito.

Uma cidade como Lisboa precisa urgentemente de táxis adaptados para deficientes, para velhinhos com bengalas, para pessoas frágeis ou doentes, para homens e mulheres que fizeram operações graves, para pais e mães que têm filhos pequenos ou bebés de colo e, quem sabe, até para um dia o próprio Florêncio Almeida poder transportar algum familiar ou amigo que tenha dificuldades de locomoção. Contra estes factos não há argumentos. Ou há, senhor Florêncio Almeida?

Texto de Laurinda Alves, tirado daqui



O Senhor Comentador aplaude a Câmara de Lisboa pela iniciativa dos táxis adaptados a deficientes

Há um projecto bem intencionado da Câmara de Lisboa para incentivar a adaptação de táxis ao transporte de pessoas com dificuldades de mobilidade. Contudo, o Presidente da Antral, Florêncio Almeida, defende que "não há mercado" para este tipo de transporte. Entre outras objecções acrescenta que "as pessoas sem deficiência não querem viajar em táxis próprios para deficientes. Eu próprio não gosto de ser conotado com o que não sou". Eu percebo o Florêncio: eu também não gosto de ser conotado com o que não sou. Embora nunca me passaria pela cabeça usar a palavra "conotado". No entanto, discordo do nosso presidente da Antral. O problema não é a falta de deficientes de mobilidade. Há imensos. Só que não gostam de o reconhecer. Devia haver uma campanha a explicar às pessoas com deficiências que não são as outras pessoas que se movem com rapidez mas que são elas que não se movem. Mas percebo que uma campanha de consciencialização de deficientes, além de custosa, pode ser embaraçosa. Como é que se diz a alguém que está habituado a ser como é que de facto o normal é não ser como ele? Podemos apanhar um deficiente com formação filosófica que pergunte: "Como é que tem a certeza disso?" E pronto. Aí acabou o conceito nobre de compaixão para sermos enterrados no fundo da nossa suposta e arrogante normalidade. Mas pondo de parte a óptica de angariar clientela para reflectir sobre como as pessoas ditas normais não aceitariam ser confundidas com deficientes, devo dizer que o Florêncio se engana rotundamente. Para começar, quem tenha ido a uma casa de banho com a alternativa só para "deficientes", verificou que o dito compartimento sempre é mais limpo e tem um ar mais confortável do que os vulgares nichos de evacuação fisiológica dos ditos normais. A razão dessa extrema limpeza é óbvia: eles são menos e a sua manutenção higiénica está facilitada. Se fazemos uma transposição simples, podemos imaginar que os táxis para deficientes serão também mais limpos e os seus condutores menos stressados. Até diria mais: iam estar mais contentes por não terem de andar a subir e descer do carro por causa do cliente. Os clientes, por sua vez, sentir-se-iam mais confortáveis porque normalmente este tipo de carros está feito para facilitar tudo. Habitualmente são mais espaçosos (ninguém sabe o que um deficiente pode trazer consigo) e claramente mais limpos (os deficientes que podem andar de táxi são normalmente mais limpos que os que andam a pedir na rua. Eu, que gosto de andar de táxi quer em Lisboa quer no Porto, não hesitaria em optar por um carro adaptado a deficientes. Por isso não concordo com o que Florêncio Almeida diz - que não gosta de ser conotado com o que não é. Eu também gosto de ser bem tratado e ser transportado tão educadamente num carro limpinho como aqueles que a Câmara de Lisboa quer promover. Estou a favor dos táxis para as pessoas com dificuldades de mobilidade, com a condição de não serem mais caros nem exclusivos. Estamos todos com dificuldades. Fora isso, tudo bem.

Texto de Carlos Quevedo, tirado daqui

Que também pode ouvir aqui