quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Outros custos...



Imagem de Veneza. Podia ser em qualquer cidade de Portugal.
Uma pessoa a tentar levar uma uma pessoa em cadeira de rodas cadeira de rodas degraus acima


Imagine uma cidade…

Imagine que vivia numa cidade em que os passeios tinham um metro de altura e que, para entrar em sua casa, teria que subir umas escadas com degraus de meio metro e passar de lado nas portas.

Imagine que o proibiam de frequentar grande parte das escolas, dos teatros, dos cafés e que até o centro de saúde estava sempre fechado para si.

Você não gostaria de viver numa cidade assim.

Diria que estava a ser descriminado e que se esgotava a ultrapassar barreira após barreira para evitar a exclusão e o isolamento. Chegaria à conclusão de que era impossível aí viver, e mudava-se, o mais rapidamente possível para outra, feita à medida das suas capacidades.

Este pesadelo, que para si só existe no reino do faz-de-conta, é para muitos a realidade em que são obrigados a viver, porque não têm outra cidade para onde mudar.

Lembramo-nos sempre das pessoas em cadeira de rodas. Mas se observarmos com atenção as pessoas que todos os dias encontramos na rua e os virmos apanhar o comboio, subir as escadas do Metro, atravessar uma rua de intenso tráfego, constatamos o esforço desnecessário da mãe que leva o seu filho no carrinho de bebé, do idoso, do cego, daquele com a perna partida ou ainda o que transporta duas malas a caminho da estação.

Outra cidade surgirá quando o poder político reconhecer que a acessibilidade, além de ser um direito, é indispensável para a sustentabilidade social e económica das cidades, promovendo legislação adequada, avaliando-a regularmente e fiscalizando a sua aplicação.

Surgirá quando arquitectos e engenheiros aceitem a diversidade e projectem para o maior número possível de pessoas, reconhecendo as suas diferentes aptidões físicas, sensoriais e intelectuais.

Uma cidade para todos é possível, e será real quando a maioria o exigir.

Imagine então uma cidade acessível.

Era bom, não era?...



Texto escrito já há alguns anos que, quanto a mim, mantém alguma actualidade.